segunda-feira, 29 de outubro de 2012

1 - Segunda-feira anormal


 Acordei na manha de segunda-feira ao som do despertador de meu celular, levantei preguiçosamente da cama e me dirigi ao banheiro. Parei em frente ao espelho e odiei o que vi, meu cabelo estava extremamente despenteado e horrível, resolvi então tomar um banho rápido para estar apresentável para ir à aula.
 Sai do banheiro enrolada em uma toalha e parei a frente de meu guarda-roupa, peguei o uniforme horrendo da escola que era composto de uma saia de pregas preta, camisa branca e meias que iam até os joelhos.
 Voltei ao banheiro para arrumar o cabelo e delinear os olhos de preto, a única maquiagem que eu usava. De relance olhei para a hora em meu celular, marcava 07h45.
 Sai correndo do quarto em direção da cozinha para pegar a mochila que estava em cima da bancada ao lado de um cupcake e um bilhete de meu pai:

 Tive que sair e ir para o escritório muito cedo, não poderei leva-la para a escola, então deixei as chaves do meu carro na mesa ao lado da porta da frente. Cuide bem do meu carro.
Papai

 Normalmente eu não pegaria o carro dele, mesmo sabendo que ele havia deixado, mas como me faltavam somente 15 minutos para o começo da aula, não recusei.
 10 minutos depois eu estava parada com o Mustang 1966 preto de meu pai no estacionamento da escola, eu adorava aquele carro.
 Quando passei pela porta da sala de aula, vi meu amigo Tyler sentado ao fundo da sala me fitando com um olhar do tipo que dizia que hoje era a segunda-feira mais estressante e deprimente de todos os tempos, sendo que ela tinha começado a pouco menos de 8 horas.
 Ele era um garoto um pouco mais alto do que eu, tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Parecia que passava a maior parte do dia em uma academia, mas eu sabia que seus músculos bem definidos eram herança genética.
 Andei até ele e me sentei na classe ao lado.
 - Bom dia!- disse a ele abrindo um sorriso sem vontade.
 - O que há de bom em uma segunda-feira?- disse ele em um tom de sarcasmo.
 Percebi que ele estava de mau humor e falei:
 - Deixa eu adivinhar? Você brigou com sua namorada de novo? Qual foi o motivo dessa vez?
 Ele me enviou um olhar de “fique fora disso”, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde naquele dia ele me contaria o que havia acontecido.
 -Tudo bem então, vamos mudar de assunto. O que você vai fazer depois da aula?- falei.
 - Não sei, acho que vou para a biblioteca, Por quê?
 - Eu estou com o carro do meu pai e pensei que nós poderíamos ir para o bar e jogar sinuca, você me deve uma revanche.
 - Não sei se isso é uma boa ideia.
 - Ah! Por favor, vamos. Você parece precisar de uma distração.
 - Está bem, mas você paga a bebida.
 Abri um sorriso de satisfação e disse:
 - Fechado!
 As aulas da parte da manha passaram muito lentamente, quando chegou a hora do almoço eu e Tyler nos dirigimos ao refeitório e sentamos na mesma mesa de sempre.
 - Que me contar o que aconteceu agora?- Perguntei parecendo mais curiosa do que uma amiga solidária.
 - rose e eu brigamos de novo, e pelo mesmo motivo - ele fez uma pausa – Ciúme!
 - Mas ciúme de quem? Não é de mim, certo? Não de novo?
 - Sinto em lhe informar que sim. Ela acha que você sempre dá um jeito de se meter nos nossos encontros e que você só é minha amiga por ter segundas intenções.
 - O que? – indaguei incrédula com o que acabara de ouvir - Como ela pode achar isso? Preciso lembra-los de que fui eu quem apresentou os dois?
 - Foi bem esse o motivo da briga. Ela não entende que nossa amizade é importante para mim e que se tivesse de escolher entre você e ela, não preciso nem dizer qual seria a minha escolha.
 - Uau! – disse colocando a mão sobre o peito- Não esperava ouvir isso de você.
 - Você e eu somos amigos desde sempre, não deixaria de você por nada. - ele pegou em minha mão e olhou em meus olhos – Você é minha Irmã.
 Mais tarde depois da aula, dei uma carona à Tyler e fui para casa. No caminho me lembrei de que havia esquecido de combinar a hora para nos encontrarmos. Mandei uma mensagem:
 Vou passar para busca-lo às 8h, combinado?
 
Alguns minutos mais tarde recebi a resposta.
  Não será necessário, meu carro voltou da oficina. Nos encontramos às 8:15 no bar de sempre.
 Fui até a cozinha e peguei o cupcake que tinha deixada de lado pela manhã, sentei me na cadeira da bancada e olhei para o relógio, eram 7:15. Como ainda era horário de verão o sol estava parado no horizonte e seus raios entravam pela janela da cozinha. Fui até meu quarto e tirei do guarda-roupa uma calça jeans escura e uma camiseta preta, calcei meu all-star e fui até o espelho atrás da porta. A roupa estava bem, mas quando visualizei a revolta de meu cabelo, abafei um grito. Corri até o banheiro e tentei arruma-lo, passei produtos que eu nem sabia que tinha. Por fim, consegui controlar sua rebeldia. Voltei a me olhar no espelho e vi uma garota magra com cabelos cacheados e castanhos e olhos, delineados em preto, também castanhos. Parecia ter mais de 18 anos, o que era bom pois iria para um bar onde teria que pagar a bebida. Se tivesse sorte, o dono do bar nem iria pedir a identidade.
 Sai do quarto e fui em direção à porta da frente, peguei uma caneta e um post-it que estavam na mesa ao lado da porta e escrevi um bilhete para meu pai:
Sai com Tyler, não voltarei muito tarde. Ligue se precisar de algo.
Bjs.
Anna
 Colei no espelho acima da mesa, peguei as chaves e meu celular, joguei-os dentro da bolsa e sai. Eram 8 horas em ponto e levaria 15 minutos de carro até o local onde encontraria Tyler.
 Cheguei no bar antes de Tyler e fiquei esperando por ele em uma mesa no canto. Quando olhei para a porta, vi um garoto que me chamou a atenção. Ele era alto e forte, tinha cabelos negros e a pele clara, estava vestido dos pés a cabeça de preto, mas algo nele além das roupas me chamou a atenção: seus olhos. Eram negros mas tinham um brilho azulado.
 Ele olhou para mim e por um instante nossos olhos se encontraram. Ele abriu um sorriso que curvou a linha de seus lábios e eu respondi educadamente com outro sorriso, foi até o balcão do bar e sentou-se num banco de costas para mim. Logo depois vi Tyler entrando pela mesma porta e vindo em minha direção.
 - Então, vamos pedir algo para beber?- Perguntou ele com um sorriso apagado no rosto.
 - Esqueceu que sou menor de idade? Hoje estão pedindo as identidades. Tenho somente 16 anos e não posso pedir bebidas.
 - Eu também não sou maior de idade, mas existe uma coisa chamada identidade falsa. Até parece que você não tem uma.
 - Tenho, mas pensei que não fossemos beber nada alcoólico em plena segunda-feira.
 Ele rio alto e com um tom de deboche, e disse:
 - Vá até a sala de jogos, ache uma mesa de sinuca boa e reze, porque nem a sorte irá ajuda-la hoje. Por que não pretendo deixa-la ganhar dessa vez.
 Fui até uma das mesas de sinuca espalhadas em uma sala separada do bar, apoiei uma das mãos nela e esperei por Tyler. Alguns minutos depois ele veio até mim com um copo gigantesco de capeta de morango –minha bebida favorita- e outro de cerveja. Deu o copo de capeta para mim e disse enquanto fazia uma pausa na risada:
 - Tome cuidado para não se lambuzar meu bebê.
 Olhei para ele com cara de indignação, mas por dentro estava rindo tanto quanto ele.
 - Cale a boca e pegue o taco!- disse.
 Após alguns minutos, somente metade das bolas de biliar estavam sobre a mesa. Essa fora sem duvida o jogo de sinuca mais rápido e sem graça que eu jogara, e estava ficando muito chato.
 Eu estava estudando o melhor ângulo para encaçapar a bola oito quando sem querer desviei o olhar para a minha frente, e do outro lado da sala vi o garoto que havia visto entrar pela porta pouco antes de Tyler.
 Ele estava sentado e em uma mesa com outros homens e jogava cartas. Levantou os olhos do baralho e os direcionou a mim. Como ele é lindo, pensei. Seus olhos prenderam os meus por mais alguns segundo e pude perceber como era fascinante seu olhar.
 Tyler atravessou meu campo de visão e cantarolou:
 - Annaaa bananaaa! Volte para a terraaa!
 - Desculpa, me distraí.
 Ele olhou para trás e viu para onde eu estava olhando.
 - Ok, se quiser que eu vá embora para poder por em pratica seu poder de sedução, é só me avisar.
 - Não seja bobo, eu nem o conheço.
 - Mas pode conhecer.
 Eu o fitei com um olhar que dizia “fique quieto antes que eu me arrependa completamente de ter vindo”, ele riu.
 - Tá bom então, parei. - disse ele colocando as mãos abertas a frente de seu corpo.
 O silêncio seguiu por mais uns instantes e eu disse:
 - Isso era para ser divertido, não para parecer um velório. Acho melhor eu ir para casa, está ficando tarde e não quero que meu pai se preocupe. – fiz uma pausa enquanto pegava o taco da mão de Tyler e o meu, e os coloquei no suporte na parede – Além do mais, tenho dever de casa e sei que você também tem.
 - Nem me lembrava disso, mas se você quer ir, então vamos.
 
Minutos depois eu estava com o carro parado na frente de casa, não podia estacioná-lo na garagem, pois meu pai tinha deixado o carro da empresa na entrada. Saí do carro e me dirigi à entrada da casa, já passava das 10 horas da noite e eu só conseguia pensar em me deitar na cama e dormir, mas ainda tinha dever a fazer. Entrei pela porta da frente a larguei as chaves na mesa da entrada. Olhei para a porta da sala e vi meu pai deitado no sofá assistindo a um programa de culinária na TV. Cheguei perto dele e lhe dei um beijo na bochecha.
 - Oi pai!
 - Oi meu amor, como foi a noite?
 Meu pai não se preocupava muito comigo, o que o fazia parecer um pai pouco presente. Mas só que estava conosco no dia em que mamãe saiu de casa e fugiu com o dono de um restaurante francês sabe que ele o faz por saber que mais sedo ou mais tarde eu também vou faze-lo. Não o fato de fugir com o dono de um restaurante, mas o fato de sair de casa.
 - Foi divertida - disse sentando ao lado dele - e a sua?
 - Nada divertida. Isso é cheiro de bebida e cigarro? Onde você estava?- disse ele com um leve tom de irritação na voz.
 - Calma pai! Eu só fui jogar sinuca com o Tyler. Só isso.
 - Você acha que vou acreditar que você não bebeu?
 - Pai...
 - Deixa eu adivinhar? Foi capeta de morango?
 - Não vou mentir, Tyler pagou um copo para mim, não pude resistir.
 - Você sabe que não sou contra você beber, mas estava dirigindo. – ele fez uma pausa breve -Estava dirigindo o meu carro. Não deveria ter feito isso.
 - Pai foi só dessa vez. Prometo que não faço mais.
 Eu o abracei e disse:
 - Tenho que dormir, tenha ótimos sonhos.
 - Você também filha.
 Fui para meu quarto e me joguei na cama. Podia parecer falsidade quando prometi que não beberia de novo se estivesse dirigindo, mas meu pai nunca me deixava de castigo. E essa era só um entre os vários motivos que me levavam a obedecer quase todas as suas ordens. Não queria perder a liberdade de ir e vir por uma simples rebeldia momentânea.
 Tentei levantar-me e pegar o dever de casa na mochila, mas estava um pouco tonta por causa da bebida. Então resolvi que tinha sido uma aluna excelente durante todo o ano letivo, mas que merecia um descanso. Coloquei os cadernos de volta na mochila e fui até o banheiro para colocar o pijama e tirar o delineador dos olhos. Voltei para a cama e me joguei por cima das cobertas. Adormeci daquele jeito mesmo.

Por: Joseane Ramos

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